Novo relatório do ACNUR aponta que, nos últimos cinco anos, milhares de rohingyas fugiram da violência em busca de segurança e estabilidade em países como Bangladesh e Malásia.
Novo relatório do ACNUR aponta que, nos últimos cinco anos, milhares de rohingyas fugiram da violência em busca de segurança e estabilidade em países como Bangladesh e Malásia.
BANGKOK, Tailândia – Estima-se que mais de 168.000 rohingyas tenham deixado Mianmar nos últimos cinco anos devido à violência, aponta um novo relatório do ACNUR, a Agência da ONU para Refugiados, sobre o deslocamento forçado no Sudeste Asiático.
A recém-lançada publicação, 2016 Report on Mixed Movements in South-East Asia, destaca as complexas dinâmicas que motivam os contínuos êxodos do estado de Rakhine. Integram as fontes que colaboraram com o relatório o governo, ONGs, notícias veiculadas na mídia, assim como mais de 1.000 entrevistas feitas diretamente com a comunidade rohingya na região.
Ainda que o deslocamento dos rohingyas já ocorra há décadas, o fato ganhou destaque na imprensa em outubro do ano passado quando ataques a postos fronteiriços localizados ao norte do estado de Rakhine desencadearam uma operação de segurança que forçou a movimentação de cerca de 43 mil civis para Bangladesh até o final de 2016. Até fevereiro deste ano, estima-se que esse número tenha chegado a 74 mil pessoas.
Muitos dos que chegaram recentemente aos campos e abrigos improvisados de Bangladesh relataram ao ACNUR a ocorrência de incêndios, saques, tiroteios, estupros e detenções dos quais tiveram que fugir em seu país.
“Essas crianças, mulheres e homens estão extremamente vulneráveis. A menos que ações urgentes sejam tomadas, eles correm riscos de sofrerem novas violações mesmo que já estejam em outro país”, afirmou Shinji Kubo, Representante do ACNUR em Bangladesh. “Muitos deles necessitam de abrigos adequados antes que a estação das chuvas tenha início. Sem o apoio adequado, eles também estarão expostos a riscos como trabalho infantil, violência sexual e de gênero e tráfico humano”.
Antes dos recentes atos de violência, a Malásia era o destino preferido de muitos rohingyas. Entre 2012 e 2015, cerca de 112.500 deles arriscaram suas vidas em embarcações clandestinas na Baía de Bengala e no mar de Andaman na esperança de chegar à Malásia, onde há uma comunidade rohingya e possibilidades de trabalho no mercado informal.
Entre as pessoas que fizeram a jornada marítima estão as que fugiram da violência em Rakhine em 2012, e aquelas enfrentavam de forma desesperadora as restrições como a liberdade de movimento, o acesso a serviços e aos meios de subsistência
A rota marítima foi interrompida em meados de 2015 quando o governo da região reprimiu as redes marítimas de contrabando. No último ano, o ACNUR não teve confirmações sobre a chegada de embarcações na Malásia.
Entre aqueles que tentaram chegar à Malásia por vias terrestres em 2016, mais de 100 – dos quais mais da metade era rohingya – foram presos em Mianmar e na Tailândia.
O relatório de 2016 analisa outras rotas percorridas pelos rohingyas incluindo a Índia via Bangladesh. O documento observa um fluxo contínuo, porém lento, de chegadas desde 2012 totalizando um número de cerca de 13 mil pessoas.
“Observando a diminuição do número de chegadas na Índia, é possível afirmar que a rota terrestre não substituiu a marítima”, disse Keane Shum, da Unidade de Monitoramento de Movimentos Mistos Regionais do ACNUR, que produziu o relatório. “Em comparação com aqueles que chegaram à Malásia pelo mar, os rohingyas que chegaram à Índia viajaram com mais membros familiares e escolheram o percurso por ser menos oneroso e mais seguro”.
Além de analisar os padrões de deslocamento dos rohingyas, o relatório também oferece dados de uma pesquisa realizada com 85 mulheres e meninas rohingyas na Índia, Indonésia e Malásia. Os resultados indicam que a maioria delas se casou entre os 16 e 17 anos e tiveram filhos aos 18. As que estão na Índia aparentam ser mais escolarizadas, e aparentemente tiveram mais liberdade para escolher seus maridos. Em contrapartida, as que estão na Malásia aparentavam ter tido um casamento arranjado.
Um terço das 85 mulheres e meninas afirmaram ser vítimas de violência doméstica. Muitas disseram que gostariam de ter uma fonte de renda própria, e algumas estavam aptas para atuar no mercado de trabalho, porém, poucas delas tinham rendimento próprio.
O ACNUR tem trabalhado com países que acolhem refugiados rohingyas no que diz respeito às questões de proteção e permanência temporária, que incluem garantir que tenham acesso a serviços básicos e trabalho formal. Isso possibilitará que se tornem autossuficientes até que soluções duradouras sejam estabelecidas.
A agência também tem conversado com as autoridades de Mianmar para conseguir a retomada completa do acesso de ajuda humanitária às pessoas vulneráveis no norte de Rakhine.
O ACNUR está pronto para apoiar as ações do governo com o objetivo de promover uma coexistência pacífica e ajudar a resolver questões relacionadas à cidadania.
O número total estimado de refugiados e deslocados internos rohingya na região seja de 420 mil e 120 mil respectivamente.
Fonte: ACNUR