Descrença no retorno à terra de origem aumenta entre refugiados palestinos

  Refugiado da Guerra dos Seis Dias reconhece: “O passado nunca vai voltar”. Em junho de 1967, Sobi Auad deixava a cidade de Jericó com seus pais sob o fogo cruzado dos soldados jordanianos e israelenses. 

Por AFP

AMÃ — Em junho de 1967, Sobi Auad deixava a cidade de Jericó com seus pais sob o fogo cruzado dos soldados jordanianos e israelenses. Cinquenta anos, sete filhos e 15 netos depois, continua sendo um refugiado e vive em Amã com a família, que somente conhece sua terra de origem através das histórias que ele conta.

— O passado nunca vai voltar. Eu queria ter morrido em Jericó para não precisar chegar aqui e ter de carregar o que eu levo na minha memória — disse Auad, apenas um dos 300 mil refugiados surgidos após a Guerra dos Seis Dias. — Nossa vida era simples, mas muito feliz.

Nessas cinco décadas, a tenda da família erguida a 40 km de Jericó foi substituída por uma casa, e o campo de Al-Wihdat se parece com qualquer outra vizinhança da capital jordaniana.

O direito de retorno dos refugiados, expulsos pela criação de Israel em 1948 e depois pela guerra de 1967, é um dos pontos mais complicados na solução do conflito árabe-israelense. Para Israel, é impensável. Para a Autoridade Nacional Palestina (ANP), um direito inalienável.

Entre os jovens rebeldes dos campos e a ANP reina a desconfiança. Para os primeiros, a Autoridade é quem negocia com Israel e talvez um dia renuncie às terras reclamadas por refugiados.

À espera dessa volta, Abdel Qader al-Lahham, de 96 anos, luta a cada dia contra a ideia de que “os velhos vão morrer e os jovens vão esquecer”. Um dos netos conseguiu a permissão israelense para visitar a terra natal.

— Descrevi para ele a casa e até a figueira que plantei — disse Abdel, que lamenta que o cultivo da terra tenha se acabado, e com ele o desejo de voltar.

Perdido na recordação da terra fértil, mostra a casa no campo de Dheisheh e suspira.

— Essa (casa) nem sequer me pertence, tudo isso é da agência — diz, referindo-se à ONU, que se ocupa dos refugiados palestinos, com um orçamento cada vez menor.

Já Mohamed Nasar tenta manter viva a recordação do êxodo. Junto a outros, esse jovem palestino mantém em circulação um ônibus da época em que podiam se deslocar “sem cruzar um só posto de controle”.

Esses ônibus faziam os trajetos Jerusalém-Sanaa ou Haifa-Beirute. Levavam os palestinos ao cinema em Amã ou peregrinos cristãos de Damasco para Jerusalém. Cruzaram pela última vez a fronteira em 1967, “com passageiros que, com suas malas, tinham que deixar seu país para ir para outro”, lembra.

Fonte: O Globo

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