Cáritas realiza encontro com ênfase nos 50 anos da encíclica Populorum Progressio

idi braOs participantes refletiram sobre o conceito de desenvolvimento humano integral e bem viver, considerando o multiculturalismo e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. O encontro pretendeu também analisar a situação do desenvolvimento humano integral na região dentro do contexto global analisando os aspectos socioeconômico, político, ético, cultural e ambiental.

Teve início neste domingo (13) e segue até quarta-feira (16) o Encontro Latino Americano e Caribenho da Cáritas que se realiza na capital Salvadorenha, San Salvador. Durante estes dias os participantes vão refletir sobre o conceito de desenvolvimento humano integral e bem viver, considerando o multiculturalismo e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. O encontro pretende também analisar a situação do desenvolvimento humano integral na região dentro do contexto global analisando os aspectos socioeconômico, político, ético, cultural e ambiental, além de identificar os desafios pastorais e linhas de ação para a Cáritas na região.

A grande fonte inspiradora para o caminho a ser percorrido será a encíclica Populorum Progressio, documento do papa Paulo VI que está completando 50 anos e ainda é um grande referencial para as ações da Igreja no campo social.

Desenvolvimento humano integral

A primeira conferência do encontro foi conduzida pelo arcebispo de Manila e presidente da Cáritas Internacional, cardeal Luis A. Tagle que em sua abordagem intitulada “A Populorum Porgressio e sua contribuição para a concepção de desenvolvimento humano integral: uma releitura 50 anos depois”, destacou que a encíclica afirma a obrigação moral da solidariedade para que as nações alcancem a paz social. ”O fosso entre ricos e pobres, as feridas causadas pelo colonialismo, descritas por Paulo VI continuam forte hoje. No último Fórum Econômico Mundial a organização internacional Oxfam denunciou que atualmente oito pessoas no mundo concentram a riqueza da metade da população mundial. Enquanto uma em cada 10 pessoas sobrevivem com menos de dois dólares por dia, isto é escandaloso”, destacou o cardeal.

Para o presidente da Cáritas Internacional, rever a proposta do papa Paulo VI é um imperativo no que se refere ao desenvolvimento humano, o que requer de estudiosos e pesquisadores uma profunda reflexão a respeito de um novo humanismo, que permita o encontro das pessoas com valores como amor, amizade, aceitação, inclusão, eliminação das doenças, acesso à cultura e à boa educação, consciência da dignidade dos outros, interesse ativo no bem comum, desejo de paz e reconhecimento de Deus e da fé.

A pobreza em questão

O cardeal Tagle destacou ainda que o desenvolvimento proposto por Paulo VI é integral, e que 50 anos após a Populorum Progressio consultar especialistas e teóricos é indispensável. O presidente da Cáritas Internacional também chamou atenção para o fato de que a questão da pobreza e do crescimento não representa apenas uma estatística, são seres humanos, e não apenas números. O cardeal fez ainda um apelo para que todos possam expandir o significado da palavra “testemunha” e disse que este é um chamado para que cada um possa de fato ser testemunha do que Deus está fazendo. Neste sentido, o cardeal Tagle apontou quatro áreas que devemos enfatizar:

1. A contínua busca a nível pessoal de um verdadeiro crescimento humano para atingir a autenticidade no desenvolvimento humano. Quando ouvimos o grito de uma mãe após a morte de seu filho, ou vemos um pai à procura de comida em uma lixeira, perguntamos: Onde está a humanidade? Onde está a minha humanidade se permito que esses atos desumanos ocorram? Um ser humano pode ser capaz de fazer tanto mal ao outro? Como as pessoas que vivem no meio do lixo podem encontrar o seu caminho como um ser humano? Se as escutamos atentamente e permitimos que nos surpreendam, percebemos que ninguém pode afirmar ser plenamente humano, todos nós estamos em uma jornada para a autenticidade. Não podemos promover um autêntico desenvolvimento humano a partir de uma visão de superioridade. Os pobres têm o tesouro da autêntica humanidade para compartilhar conosco. O impacto do ambiente digital é outro fator importante. Como pode o mundo digital e virtual tornar uma pessoa mais original e autêntica? Em alguns casos o domínio da realidade virtual pode ajudar a discernir o verdadeiro do falso.

2. A dinâmica da autenticidade pessoal pode ser aplicada para o desenvolvimento das nações. Frequentemente, modelos econômicos e sociais são exportados dos países desenvolvidos para os países que estão em desenvolvimento. Os países desenvolvidos não incorporam os costumes locais e ainda impõem o modelo de como as coisas devem funcionar. Em países mais desenvolvidos é difícil avançar na questão da ajuda a países que precisam se estes apresentam visões diferentes. Especialmente em situações de emergência, este não é um ato de justiça e humanidade, é humilhante para nações pobres e inibe o desenvolvimento. É vergonhoso que em alguns países o envio de água, alimentos e roupas sejam bloqueados apesar de manterem o livre acesso a armas destrutivas.

3. O tema do desenvolvimento humano precisa contemplar os diferentes conflitos que enfrentamos hoje: étnico, religioso, cultural, social, etc. A busca pelo desenvolvimento humano precisa de um diálogo intercultural e religioso. Uma pessoa cheia de ressentimento e ódio não pode promover um verdadeiro desenvolvimento, é preciso o perdão, é preciso aprender com outras religiões, assim como desenvolver amizades com outras pessoas que vivem e pensam diferente de nós. Existem feridas comuns, e para nós que somos cristãos ver e tocar as feridas de Jesus é fundamental. As feridas de Cristo são as feridas do mundo. Aqueles se negam a tocar as feridas do mundo não tem o direito de dizer “Meu Senhor, e meu Deus”.

4. É preciso atentar adequadamente para o cuidado e a proteção da nossa casa comum. Tanto a Terra como os seres humanos sofrem por causa do comportamento atual, onde tudo é mercadoria, as pessoas e os processos são considerados como uma mercadoria. A exploração, a contínua degradação, a violência contra mulheres e crianças, o tráfico de pessoas e de órgãos, o crime organizado, a exploração sexual, são alguns dos negócios rentáveis que ocorrem em detrimento da dignidade humana. Precisamos restaurar a visão do dom e da graça, não somos proprietários, somos chamados a cuidar da Terra, dos dons da criação. Podemos afirmar nossa fé como gestores desses dons. Precisamos sair vigorosamente em busca do bem comum para que toda a família humana possa se beneficiar dos dons da terra.

Finalmente, o Cardeal Tagle terminou sua apresentação observando: “Na Populorum Progressio a criação da Comissão de Justiça e Paz foi anunciada, 50 anos depois, ela se une a novos conselhos e passa a se chamar Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, este é um grande legado deixado por essa encíclica.

O Brasil no encontro

Do Brasil participam deste encontro, o arcebispo de Aracajú (SE) e presidente da Cáritas Brasileira, dom João Costa, o diretor executivo nacional, Luiz Cláudio Lopes (Mandela), a coordenadora da colegiada nacional, Alessandra Miranda e a assessora nacional Maria Cristina dos A
njos. Na programação do encontro, no dia 15 de agosto os participantes celebram junto a Igreja de El Salvador as comemorações pelo centenário do nascimento do Beato Dom Oscar Romero.

Por Jucelene Rocha com informações da Cáritas Latinoamericana e Caribenha.

Fonte: Cáritas Brasileira

pt_BRPortuguese
Pular para o conteúdo