Acaba de sair o novo volume da Revista Interdisciplinar da Mobilidade Humana – REMHU, com um dossiê sobre “Migrações e dados estatísticos”.
Na atualidade é bastante comum ouvir falar da intensificação dos deslocamentos populacionais. A época contemporânea já foi chamada de “era das migrações”: nunca a humanidade, no decorrer de sua longa história, passou por deslocamentos geográficos tão amplos, diversificados e globalizados.
Diante desse quadro, no entanto, surgem algumas perguntas: essas afirmações fundamentam-se em dados estatísticos coletados cientificamente? Quais são as fontes de mensuração das migrações? Trata-se de fontes confiáveis? O que pode e o que não pode ser mensurado?
Visando contribuir para a reflexão sobre essa questão, a REMHU n. 39, em primeiro lugar, busca avaliar os instrumentos de coleta de dados estatísticos em âmbito migratório, bem como os aportes que, em geral, as estimativas podem oferecer na identificação, mensuração e análise dos fluxos (internos e/ou internacionais). É essa a ótica dos artigos de Jorge Martínez Pizarro/Laura Calvelo, José Marcos Pinto da Cunha e Joaquín Susino que abordam o tema focando, respectivamente, a recente rodada censitária da América Latina e do Caribe, o Censo brasileiro e as fontes estatísticas das migrações da Espanha.
Os autores são bastante unânimes em afirmar que os dados estatísticos são de extrema importância para a compreensão e análise dos deslocamentos populacionais, mas, ao mesmo tempo, reconhecem suas limitações, sendo, com frequência, necessário cruzar dados e informações oriundos de diferentes fontes a fim de ter um quadro geral mais fidedigno.
Complexa é também a comparação diacrônica e sincrônica de dados: as mudanças das formulações de perguntas, que sem dúvida visam aprimorar o instrumento de mensuração, têm o efeito colateral de dificultar a avaliação da evolução histórica do fenômeno; por outro lado, a diversidade de critérios de medição e, inclusive, a diferente conceituação de termos básicos, por vezes, inviabilizam ou tornam mais complexa a análise comparada de dados censitários de diferentes países.
A REMHU n. 39, além da avaliação dos instrumentos de mensuração, visa também a descrição do panorama migratório de alguns países, a partir de recentes dados estatísticos. Esta parte inclui as contribuições de: Alejandro Canales, que aborda a migração entre México e Estados Unidos da América no Norte, no contexto da crise econômico-financeira internacional; Laura Calvelo, que descreve, a partir do Censo de 2010, as migrações internacionais da Argentina; Rosana Baeninger e Wilson Fusco, que focam, respectivamente, a rotatividade das migrações no Brasil contemporâneo e o processo de absorção, retenção e emissão de migrantes das três maiores Regiões Metropolitanas do Nordeste brasileiro – Fortaleza, Recife e Salvador; Beatriz Padilla e Alejandra Ortiz, por sua vez, apresentam um panorama da conjuntura imigratória em Portugal, enquanto William Mejía Ochoa analisa o caso das migrações na Colômbia.
Ao Dossier Immigrazione Caritas e Migrantes são dedicadas as contribuições de Marta Giuliani, que aborda o panorama imigratório da Itália, e Antonio Ricci, que apresenta um histórico do Dossier e sua riqueza para a compreensão das dinâmicas imigratórias italianas.
A REMHU n. 39 conta também com os artigos de: Marileda Baggio e Luiz Carlos Susin, que aprofundam a evolução do Magistério da Igreja Católica sobre a questão migratória; Lília Dias Marianno, que desenvolve uma preciosa reflexão bíblica sobre migração, trabalho e identidade a partir das figuras da menina-serva de Naamã e do eunuco-etíope-servo do palácio de Zedequias; Sergio Natoli, que reflete sobre os desafios que o pluralismo cultural e a intensa imigração apresentam para a pastoral da Igreja Católica na Itália; e, por fim, Jucelaine Aparecida Soares, que aborda o tema do tráfico humano a partir do pensamento do filósofo argentino Henrique Dussel.
A seção de Resenhas, Teses e Dissertações encerra o volume.