Campanha da Fraternidade 2024 e as Migrações
“Aprofundar a fraternidade como contraponto ao processo de divisão, ódio, guerras e indiferença que tem marcado a sociedade brasileira e o mundo”. Com essas palavras Dom Ricardo Hoepers, bispo auxiliar da arquidiocese de Brasília e secretário-geral da CNBB, explica em poucas palavras o objetivo da Campanha da Fraternidade desse ano: Fraternidade e amizade social. O lema: “Vós sois todos irmãos e irmãs” (Mt. 23, 8), aponta para os fiéis a referência imprescindível que Jesus colocou para a convivência humana.
Esse apelo para a construção de um mundo onde ninguém é inimigo ou tão estranho de não pertencer às relações humanas, fraternas e sororais, marcadas por equidade e justiça, faz eco ao que o Papa Francisco já vinha ensinando na Fratelli tutti, onde o “somos todos irmãos e irmãs” é explicado amplamente em parte do segundo capítulo e sobretudo no quarto capítulo da referida Encíclica. Nas palavras de César Kuzma, “ele insiste para descermos ao chão da realidade, para que a possamos sentir de perto, pois, ela, a realidade, é mais importante do que qualquer ideia (EG, 231-233). É desta maneira que temos que olhar a migração” (Kuzma, 2021, p. 211).
Em seu texto, Cesar sugere que para abraçar migrantes, refugiados, indígenas, pessoas em situação de rua e tantas categorias de populações empurradas para as margens, alguns desafios emergem: o da diversidade a acolher na partilha e na convivência; o da hospitalidade para que ninguém fique para trás no caminho; o da vivência em comunidade, por causa do amor que distingue os cristãos e o do compromisso por uma nova sociedade mais fraterna/sororal, com vida, justiça e liberdade, independente de nacionalidade ou condição social.
A indicação da Fratelli tutti é para a resposta positiva para a pergunta de Caim:
– “Acaso sou guarda do meu irmão?” (Gn 4, 9).
– “Sim, sou! Sim, tu és!”
Em seu artigo publicado pelo Instituto HUMANITAS, padre Alfredinho afirma que “No enfoque das migrações, e da mobilidade humana em termos mais amplos, a temática da amizade social supõe o rompimento com a discriminação, o preconceito, a xenofobia e outros obstáculos de que são vítimas os migrantes e refugiados em geral”. Efetivamente, para a população migrante e refugiada, os desafios da discriminação têm várias camadas, que partindo da diferente nacionalidade, idioma, cultura e muitas vezes também religião, acumula a discriminação social pelos demais fatores que adoecem as relações sociais no país, como o racismo e mentalidades pseudo-nacionalistas, inclusive com recorte de gênero.
O CSEM acolhe o desafio de seguir fortalecendo seu compromisso na promoção de uma abordagem positiva e não simplista das migrações, produzindo e divulgando estudos, pesquisas, publicações e eventos para contribuir na construção de bases sólidas para a construção da amizade social onde migrantes, refugiados, indígenas e todos e todas sejam parte ativa, com protagonismo e com interculturalidade.

