No cenário complexo da migração global, onde narrativas de fuga ou busca por uma vida melhor se entrelaçam, existem experiências frequentemente negligenciadas, como é o caso das pessoas migrantes com deficiências.
Apesar da ausência de estatísticas internacionais oficiais disponíveis sobre a proporção de pessoas em deslocamento que possuem deficiência, uma estimativa da Organização Internacional para as Migrações (OIM) sugere que, em nível global, no final de 2020, cerca de 12,4 milhões das 82,4 milhões de pessoas forçosamente deslocadas eram pessoas com deficiência.
Muitas delas fogem de conflitos armados ou graves violações de direitos humanos. Uma estimativa levantada em 2017 sobre refugiados sírios no Líbano e na Jordânia atestava que 22,8% dos entrevistados tinham alguma deficiência, sendo 61,4% os domicílios com pelo menos uma pessoa com deficiências.
Além disso, há casos em que migrantes, inicialmente sem deficiências, enfrentam riscos durante o percurso migratório, como acidentes, abusos e sequestros, que podem resultar na aquisição de alguma deficiência. Em virtude das políticas migratórias restritivas, os acidentes frequentemente surgem como desdobramentos inevitáveis. Geralmente, esses migrantes são obrigados a regressar a seus países. Mesmo para aqueles que conseguem alcançar seus destinos, a possibilidade da não inclusão ou da deportação é muito alta, sendo imediatamente classificados como migrantes “não-desejados” ou “não-úteis”, na ótica do capacitismo.
Um exemplo disso vem de Mary Isabel Salgado, uma migrante hondurenha, que em 2007 caiu do trem conhecido como “La Bestia” durante sua jornada para os Estados Unidos. O acidente, que resultou na amputação de suas pernas, ocorreu na cidade mexicana de Orizaba. Após o acidente, acabou sendo deportada de volta para Honduras. A história de Salgado destaca os perigos enfrentados por muitos migrantes que buscam uma vida melhor, viajando longas distâncias em condições precárias, e revela as complexidades e desafios humanos. Conheça mais da história dessa migrante clicando aqui.
O CSEM aborda essa temática por meio de duas produções. “A Pastoral da Mobilidade Humana e os Migrantes Retornados com Deficiência: Construindo Caminhos para a Reintegração” destaca o processo de reintegração de pessoas que sofreram acidentes na rota migratória, resultando em amputações ou lesões ao retornar a Honduras. A outra publicação, em espanhol, intitulada “Fuerza de la vida: Mujeres migrantes retornadas con discapacidad física y cuidadoras de migrantes”, traz à tona o tema da “feminização da migração”, evidenciando os principais desafios e vulnerabilidades enfrentados por mulheres migrantes retornadas com deficiência e cuidadoras de migrantes retornados com deficiência em Honduras.