Mês da Consciência Negra:

Uma reflexão sobre as relações entre racismo e xenofobia no Brasil

O Dia da Consciência Negra no Brasil é celebrado no dia 20 de novembro, dia que segundo as fontes e documentos históricos[1] seria a data de falecimento do símbolo da resistência negra Zumbi dos Palmares. Pensado pelo movimento negro para celebrar a negritude e a resistência dos povos negros escravizados e seus descendentes, o dia 20 de novembro é um momento de reflexão sobre a importância da influência dos povos negros na cultura brasileira e sobre os fatos que movimentam a instituição dessa data.

O passado colonial do Brasil deixou marcas profundas em nossa memória social. Ainda nos dias de hoje pessoas negras são vítimas de violência, racismo, são desacreditadas e compreendidas como inferiores. Esse imaginário de que pessoas negras são inferiores se reverbera também no recebimento e acolhimento aos migrantes. Pessoas vindas de países africanos e de países caribenhos, como o Haiti, por exemplo, recebem tratamento discriminatório e são vítimas de injúrias e comentários racistas, devido a sua origem e fenótipo racial.

O artigo “Xeno-racismo ou xenofobia racializada? Problematizando a hospitalidade seletiva aos estrangeiros no Brasil” escrito por Deivison Mendes Faustino e Leila Maria de Oliveira, publicado na REMHU – Revista Interdisciplinar da Mobilidade Humana, analisa a relação entre xenofobia e racismo no Brasil.

Os autores iniciam o artigo problematizando o conceito de Xeno-racismo, demonstrando como este conceito apresenta algumas falhas para compreender contextos de países colonizados e que desenvolveram sua sociedade a partir de uma lógica escravocrata, como é o caso do Brasil. Nessas sociedades, a racialização a partir do fenótipo exerce influência no tratamento de diversos grupos de migrantes recebidos (Faustino, Oliveira, 2021).

A hospitalidade oferecida a estrangeiros no Brasil é marcada por uma seletividade influenciada pelo nosso passado histórico. Durante o período pós-abolição, as políticas migratórias favoreceram fluxos migratórios de europeus com o objetivo de “branquear” o país, refletindo uma visão racializada e hierárquica da sociedade. Nesse sentido, o tratamento dado aos migrantes europeus, frequentemente associados à civilização, cultura e de desenvolvimento é diferente dos migrantes vindos de países africanos ou de outros países do Sul global.

O dia 20 de novembro, além de celebrar o poder, a força e a influência da negritude em nosso país, provoca também a reflexão sobre as nossas ações enquanto sociedade para combater e enfrentar o racismo. Entender como a racialização exerce influência em nossos pensamentos e ações nos ajuda a pensar em como tornar o Brasil um país de acolhimento para todos os migrantes. Um país em que a sua origem, seu sotaque e o seu fenótipo não deveriam influenciar na forma em que você é recebido e tratado.   

Convidamos a todos/as a conhecer o artigo de Deivison Mendes Faustino e Leila Maria de Oliveira, disponível em:

https://remhu.csem.org.br/index.php/remhu/article/view/1494

Referência:

FAUSTINO, Deivison M.; OLIVEIRA, Leila Maria de. Xeno-racismo ou xenofobia racializada? Problematizando a hospitalidade seletiva aos estrangeiros no Brasil. REMHU: Revista Interdisciplinar da Mobilidade Humana, v. 29, n. 63, p. 193–210, 2021.


[1] Veja CARTA de Pedro [….] [….] Almeida Falcão ao Governador e Capitão-General da Capitania de Mato Grosso João Carlos Augusto D’ Oeynhausen e Gravemberg.

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