CSEM realiza pesquisa em Tijuana, México

A fronteira do México com os Estados Unidos é o maior corredor migratório de um país a outro, sendo a fronteira mais transitada no mundo1. Apenas na guarita de San Ysidro (que oferece acesso entre as cidades de Tijuana e San Diego), mais de 100 mil pessoas transitam todos os dias. Entre os que moram de um lado e trabalham em outro, cruzam também diversas histórias de sonhos e frustrações.

Muro na fronteira entre Tijuana e San Diego. Foto: Igor B. Cunha/Arquivo CSEM

Alguns latino-americanos e pessoas provenientes de outros locais conhecem muito bem as guaritas de passagem, porém apenas do lado mexicano. Todos os dias filas se formam próximo à Praça Viva Tijuana, são homens, mulheres e crianças, que, juntos ou separados, solicitam asilo na fronteira. A maioria, por não possuir provas ou evidências suficientes acaba por não conseguir ir para o outro lado de forma legal, outros nem conseguem ser atendidos – há um limite de análises das solicitações por dia.

Tijuana é a “cidade onde a pátria começa”, segundo as campanhas publicitárias do Governo mexicano, mas escolhida para ser o fim da jornada migratória de milhares de pessoas todos os anos. Além dos solicitantes de asilo, muitos migrantes de todo o globo se concentram na cidade em busca do sonho de entrar aos Estados Unidos.

Além dos sonhos, Tijuana recebe outra parcela da população migrante, a parte que vê a cidade como um duro recomeço imposto. El Chaparral é o nome da guarita que recebe o maior número de deportados provenientes dos Estados Unidos, atualmente chega a receber por volta de 100 a 150 todos os dias. Ao contrário do que se esperava com o início da administração Trump, o número de deportados não aumentou, mas o temor de que isto ocorra é latente. A deportação continua sem freios, levando centenas de pessoas às ruas próximas à guarita sem ter casa, nem trabalho. Alguns não puderam voltar ao seu país natal em décadas, e dessa forma reencontram a realidade do lado sul da fronteira em meio a sentimentos diversos entre a dor de perder sua vida conquistada nos EUA e a desesperança com o futuro.

Pesquisa do CSEM

Tijuana, por sua configuração de cidade de chegada e de trânsito de migrantes, possui diversos albergues que acolhem esta população quando não tem para onde ir.

A pesquisa do CSEM intitulada Reconstruindo a vida na fronteira: assistência e atendimento a migrantes na fronteira Norte do México, coordenada por Tuíla Botega e Delia Dutra, tem como foco o trabalho de atenção à população em situação de mobilidade na região, bem como dar visibilidade às boas práticas desse trabalho que muda vidas e encoraja todas as pessoas migrantes que passam por momentos de dificuldade a conseguir um futuro melhor.

Os pesquisadores Nathalia Vince e Igor B. Cunha estiveram do dia 24 de janeiro ao dia 26 de fevereiro deste ano na cidade visitando estes albergues, especialmente o Instituto Madre Assunta, das Irmãs Scalabrinianas, uma referência na atenção à mulheres e crianças migrantes.

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Ir. Catarina Gengu acolhendo migrantes para o almoço no Instituto Madre Assunta. Foto: Igor B. Cunha/Arquivo CSEM

Há décadas acolhendo migrantes, deportadas e solicitantes de refúgio, a casa é lugar de recuperação, na qual são oferecidos atendimentos psicológicos, jurídicos e espirituais, além da atenção básica de alimentação e estadia. Vestimentas e brinquedos para as crianças também são doados no local. As irmãs missionárias que ali estão dedicam a maior parte do seu tempo na atenção direta às migrantes.

Para a Ir. Adélia Contini, diretora do Instituto Madre Assunta desde 2009 e há 50 anos na congregação, esta atenção integral significa receber as migrantes e tratá-las de forma humana, apoiando em todas suas necessidades.

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Ir. Adélia Contini. Foto: Igor B. Cunha/Arquivo CSEM

A atmosfera acolhedora e o ambiente sempre organizado e bem cuidado faz com que o Madre Assunta seja chamado sempre de “casa”. As mulheres e crianças que passam por lá demonstram muita força, decorrente de suas experiências. A acolhida das irmãs serve como impulso na busca pela superação: em alguns casos as migrantes estão apenas esperando a oportunidade de cruzarem aos EUA, ou de retornarem a seus lugares de origem, em outros têm planos de se instalarem na cidade e a casa as apoia independente de suas escolhas migratórias.

Os resultados da pesquisa serão apresentados em uma Conferência Internacional, organizada pelo CSEM e Weltkirche da Diocese de Rottenburg/Stuttgart/Alemanha, em dezembro deste ano em Johanesburgo – África do Sul.

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1 BOTEGA, Tuíla; MARINUCCI, Roberto. In: A mobilidade humana nos países com presença de Irmãs Missionárias de São Carlos Borromeu – Scalabrinianas / CENTRO SCALABRINIANO DE ESTUDOS MIGRATÓRIOS. Brasília: CSEM, 2017. 

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