O Sínodo para a Amazônia aconteceu durante o último mês de outubro e, entre outros aspectos, traçou apontamentos para a Igreja sobre a questão migratória presente no local
Na última semana houve o encerramento do Sínodo para a Amazônia – instituição criada pelo Papa Paulo VI com a intenção de promover a colegialidade no interior da Igreja Católica Apostólica Romana e favorecer o diálogo com a sociedade como um todo. Em 2019, a assembleia sinodal convocada pelo Papa Francisco carregou o tema “Amazônia: novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral” e reuniu bispos com o Papa para o compartilhamento de informações e experiências que pretendem levar à busca de soluções pastorais locais, mas que tenham também aplicações universais.
Segundo o Papa Francisco, o objetivo desse Sínodo se deu por conta da crise na Floresta Amazônica, após encontro em 2018, no Peru, com povos indígenas de quase todos os países da Pan-Amazônia, evento no qual o pontífice falou sobre a riqueza dos saberes e da diversidade indígena, a necessidade de defender a região e seus povos e sobre as ameaças que os mesmos enfrentam por conta dos interesses econômicos sobre o território. Dessa maneira, a Igreja reconhece as lutas e resistências desses povos que enfrentam mais de 500 anos de colonização e projetos exploratórios destrutivos para a floresta e seus recursos naturais, bem como para suas culturas ancestrais e suas religiões. O Sínodo, assim sendo, além de defender o bioma, pretende solidarizar-se com esses povos ameaçados, expulsos de suas terras, torturados e assassinados nos conflitos agrários e socioambientais.
O processo preparatório da assembleia junto com as comunidades do território visou entender de quais maneiras é viável propiciar um futuro mais digno e o “bem viver” para as próximas gerações, onde a Igreja pretende colaborar para a construção de um mundo que rompa com as estruturas que sacrificam vidas e com as mentalidades de colonização, elaborando redes de solidariedade e interculturalidade.

No documento final do Sínodo se destacam diretrizes específicas para a questão migratória local, que se dá pela mobilidade de grupos indígenas em territórios de circulação tradicional, deslocamentos forçados de populações indígenas, camponesas e ribeirinhas e a migração forçada inter-regional, incluindo um crescente número de refugiados(as) que transitam na região. A Igreja entende que é necessário cuidado pastoral transfronteiriço que inclua o direito à livre circulação das pessoas que residem no lugar, bem como um sólido trabalho em rede para erradicar o tráfico de pessoas, do qual são vítimas sobretudo as mulheres migrantes.
O documento sinodal convida a prestar atenção ao deslocamento forçado de famílias indígenas, camponesas, afrodescendentes e ribeirinhas nos centros urbanos e sublinha que tal fenômeno requer uma “pastoral de conjunta nas periferias”, por meio da criação de equipes missionárias que, em coordenação com as paróquias, cuidem desses aspectos, favorecendo a incorporação desses grupos nas cidades, além de prever o estabelecimento de um “ministério de acolhimento” para solidariedade com os(as) migrantes, refugiados(as) e sem-teto que vivem no contexto urbano, inclusive promovendo seu protagonismo.
A professora Márcia Maria de Oliveira, do programa de pós-graduação Sociedade e Fronteiras da Universidade Federal de Roraima, participou da elaboração do documento final e ressalta que as conclusões da Assembleia Sinodal apontam que as migrações denunciam as injustiças e desigualdades sociais, a concentração das riquezas, o desemprego, o processo crescente de empobrecimento, a violação aos direitos humanos, a mercantilização dos recursos naturais, as violações dos grandes projetos economicistas que se instalam na região através das grandes mineradoras, das hidroelétricas, das petroleiras transnacionais, das corporações do agronegócio e, acima de tudo, a concentração dos bens e serviços nas grandes cidades.
Segundo Oliveira, o atual contexto migratório indica que os caminhos pastorais passam pela articulação em redes de pastorais com novas modalidades de colaboração entre as igrejas locais, as Conferências Episcopais, institutos missionários e pastorais como o serviço Pastoral dos Migrantes, entidades de cooperação fraterna, o diálogo e parceria com as agências nacionais e internacionais dedicadas aos migrantes. A especialista afirma que a grande maioria dos(as) migrantes e refugiados(as) concentra-se nas periferias das cidades da Pan-Amazônia, nas quais a Igreja, através de seus organismos e pastorais, se posiciona na contramão da xenofobia e de todas formas de discriminação e criminalização dos(as) migrantes, mobilizando-se para acolher, compartilhar, cuidar e integrá-los(as). Desta forma, os(as) migrantes e refugiados(as) redefinem e reposicionam a pastoral nos centros urbanos da Amazônia, uma pastoral chamada a responder aos grandes desafios da crescente urbanização, finaliza Márcia.
Luana G. Silveira
Equipe de Comunicação – CSEM