Jorge Castillo Guerra propõe visão humanizadora da migração

O deslocamento de pessoas forçado por guerras, crises políticas e ameaças à vida representa um dos grandes desafios contemporâneos. Não apenas pelo volume de pessoas em movimento, mas pela urgência de se construir formas mais humanas de convivência.

Para o teólogo e sociólogo Jorge E. Castillo Guerra, professor da Universidade Radboud de Nimega, nos Países Baixos: “Conviver é acolher, é se compadecer. Uma convivência verdadeiramente humanizadora rompe com a lógica da indiferença e aposta em vínculos solidários”. E, segundo ele, enfrentar esse cenário exige mais do que respostas logísticas: é preciso apostar na solidariedade ativa e na escuta atenta da dor migrante.

Essas reflexões estarão no centro da III Conferência Internacional do Centro Scalabriniano de Estudos Migratórios (CSEM), que acontece entre os dias 19 e 22 de maio de 2025, em Brasília. Com o tema “Diálogos para compreender, humanizar e valorizar as pessoas em mobilidade”, o evento reunirá pesquisadores, lideranças migrantes e refugiadas, organizações da sociedade civil, pastorais, representantes governamentais e organismos internacionais.

A programação bilíngue contará com mesas de debate, colóquios e grupos temáticos sobre temas como políticas públicas inclusivas, interseccionalidades, acesso a direitos e o papel das redes de apoio.

Confirmado como um dos palestrantes da III Conferência Internacional do CSEM, Jorge E. Castillo Guerra concedeu uma entrevista à instituição para reforçar a urgência de romper com estruturas desumanizantes que marcam a mobilidade forçada. 

“A migração forçada conforma situações em que as pessoas são empurradas a deixar seus lares por ameaças de morte rápida ou lenta. Conviver é, antes de tudo, praticar uma solidariedade no sentido do Bom Samaritano — identificar quem chega em busca de apoio e criar condições para uma acolhida verdadeiramente humana”, afirmou. Castillo também destacou o papel essencial das tradições religiosas e da espiritualidade como fonte de força, resiliência e reconstrução para quem atravessa o luto e a perda em territórios desconhecidos.

Espiritualidade como fonte de resistência

Para Castillo Guerra existe um papel crucial na espiritualidade para o enfrentamento das perdas que acompanham o deslocamento. Segundo ele, a migração é também uma experiência de luto: a ausência de familiares, a incerteza legal, o sentimento de solidão.

“Para muitos migrantes, chegar a um novo lugar significa um tempo de crise. Uma noite escura e solitária da qual esperam, um dia, sair. A própria espiritualidade torna-se mais valiosa do que nunca, pois é ela que aproxima de Deus e, por meio dela, encontram forças. A fé levanta aquele que está caído, e os migrantes encontram nela uma fonte para uma atitude resiliente.

Dentro das comunidades cristãs, diz o professor, os migrantes compartilham essa espiritualidade e encontram apoio mútuo: “Há uma riqueza imensa quando quem está na noite escura encontra outros que já vivem à luz da aurora”, afirma, com referência ao livro dos Provérbios 4-18-21.

Migrantes como agentes de renovação social

Castillo Guerra também chama atenção para as dinâmicas internas das comunidades migrantes. Segundo ele, conflitos e tensões sociais presentes nos países de origem muitas vezes também atravessam as fronteiras, exigindo das pessoas migrantes um processo contínuo de redefinição de valores e identidade. 

“A experiência da desterritorialização transforma. Muitos enfrentam o apelo do materialismo e do consumo fácil, mas há também aqueles que, a partir de referências culturais e cristãs, promovem intercâmbios humanizantes — acolhendo outros migrantes, participando de redes de apoio e fortalecendo os laços dentro e fora de suas comunidades”. 

Nesse processo, os espaços para migrantes ocupam um papel fundamental, com espaços que contribuem para a coesão intercultural e fortalecem o chamado tecido social, que, além de oferecer apoio aos recém-chegados, criam redes de solidariedade que ultrapassam fronteiras culturais e nacionais.

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