Poesia que acolhe: Tânia Rodríguez e o poder das palavras em movimento

Tânia Rodríguez é poetisa, educadora social e migrante venezuelana. No Brasil há quase sete anos, a trajetória no país foi marcada por um acontecimento inesperado: com o destino inicial de ida para a Argentina, uma falha no carro durante a travessia por Porto Velho (RO) redefiniu os caminhos da família. “Se estou aqui, é porque há um propósito para mim”, conta Tânia, que hoje vive na capital rondoniense.

Ela foi uma das vozes da Terceira Conferência Internacional sobre Migração e Refúgio (ICoMiR), realizada em Brasília entre os dias 19 e 22 de maio de 2025. O evento, organizado pelo Centro Scalabriniano de Estudos Migratórios (CSEM), reuniu participantes de mais de 30 países para promover reflexões e trocas entre pessoas migrantes, refugiadas, ativistas, pesquisadores e representantes de instituições de diversas partes do mundo.

E foi no Brasil que a artesã de palavras encontrou novos sentidos ao engajar-se como voluntária no serviço pastoral da Cáritas, atuar no Projeto Orinoco e, atualmente, trabalhar com adolescentes migrantes e indígenas venezuelanos da etnia Warao.

Mas é na escrita que ela encontra o refúgio mais íntimo. Poeta desde os 15 anos, começou escrevendo cartas para amigas apaixonadas, mas os versos ganharam novos significados com o deslocamento para outro país. “Escuto dores de mulheres migrantes e as transformo em prosa ou verso, suavizando o que é muito duro de viver”, explica. O livro Entre Terras, publicado com apoio do CSEM, reúne poemas em espanhol e português e retrata, com delicadeza e força, a experiência de quem deixa a terra natal para recomeçar em outro país.

Dois sentimentos predominam na poesia que a autora expressa: o amor e a travessia feminina. “Quero visibilizar, com doçura, um processo que é extremamente difícil”, diz. Escrever, para ela, é uma forma de libertação: “A poesia me salvou. Todos nascemos livres, e hoje, na Venezuela, a liberdade está ameaçada. Com a escrita, reencontro essa liberdade em qualquer lugar do mundo.”

Tânia acredita que a mistura de idiomas na obra também é um gesto de acolhimento e aprendizado mútuo. “O livro tem poemas em espanhol e português. Isso me permite começar a pensar em português e compartilhar com o público brasileiro esse olhar poético sobre o cotidiano.”

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