Famílias venezuelanas participaram no último domingo (16), em Manaus (AM), da abertura do Centro de Apoio e Referência a Refugiados e Migrantes (CARE). Inauguração arrecadou quase quatro toneladas de alimentos para os estrangeiros, que receberam atendimento de saúde e odontológico e puderam cortar o cabelo gratuitamente durante o evento. Programação também promoveu oficinas de arte e doações de roupas e livros.
O encontro para marcar o início das atividades do centro foi promovido pela ADRA Brasil Regional Amazonas em parceria com a Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), o Fundo de Populações das Nações Unidas (UNFPA), a União Europeia e a Prefeitura de Manaus.
O CARE visa facilitar o acesso a direitos para pessoas de diversas nacionalidades. A instituição vai adaptar os serviços da rede pública local às necessidades específicas da população refugiada e migrante. Inicialmente serão oferecidos serviços de ligações internacionais gratuitas, agendamento para a solicitação de refúgio, atendimentos jurídicos, assistência social, aulas de português e acesso gratuito à internet.
De acordo com Rosimélia Figueiredo, coordenadora do projeto, a ideia é diversificar as parcerias para que diferentes tipos de assistência sejam incluídos na rotina do centro. “Esperamos atender às pessoas com outros serviços. Logo queremos oferecer apoio psicológico e acompanhamento de casos de violência sexual e de gênero”, afirma.
A oportunidade de acessar informações e serviços de uma só vez, no mesmo lugar, é celebrada pela população beneficiária em Manaus.
Segundo o chefe do escritório do ACNUR na capital, Sebastian Roa, o CARE é uma forma inteligente e prática de resposta ao cenário atual de êxodo em massa de venezuelanos.
“O centro de apoio e referência a migrantes e refugiados é um marco histórico na cidade de Manaus. É o primeiro que está sendo aberto na cidade e tem como objetivo centralizar e diversificar os serviços para os refugiados na cidade. Aqui, os serviços públicos já oferecidos aos brasileiros poderão se adequar às necessidades dessa população que chega vulnerável”, diz.
A jornalista venezuelana Zuleika Velasquez, que vive em Manaus há sete meses, considera que ações como a doação de alimentos e a criação do CARE são fundamentais para sua integração no Brasil.
“Para mim, isso significa muito mais do que uma cesta básica de Natal. É um apoio moral, um gesto de amizade. É algo que faz toda a diferença para pessoas que, como eu, deixaram suas famílias para trás e precisam de ajuda para continuar”, conta.
Ao migrar para o Brasil, a repórter abandonou dois empregos, deixando para trás a sua carreira como jornalista. Em Manaus, recomeçou a vida como muitos de seus conterrâneos: vendendo água no Largo de São Sebastião, a praça em frente ao Teatro Amazonas.
“A jornada (de trabalho) me deixava exausta, eu sentia muita dor nos meus pés. Em vários momentos, eu só conseguia sentar e chorar de dor”, lembra.
“Mas pelo menos aqui eu consigo alimentar meu filho. Chegou em um ponto em que meus salários não davam para comprar um litro de leite para ele. Com o dinheiro que ganhava, conseguia me alimentar apenas três dias da semana na Venezuela.”
Arte e refúgio
Durante a abertura do CARE, o grafiteiro Raiz Campos promoveu uma oficina de pintura e técnicas de spray com brasileiros e venezuelanos, que puderam colorir a parte externa do centro. Um dos participantes, o venezuelano Steven Jose, aproveitou a aula para resgatar um dos seus hobbies.
“Passar o dia pintando foi diferente e agradável. Já sabia pintar, é um hobbie meu. E essa atividade é importante porque desperta o senso de união e ajuda. Quando cheguei, estava tudo branco, agora está quase pronto e muito bonito. Agora sim parece uma parede”, diz, orgulhoso de sua contribuição.
O artista fez os esboços dos rostos de pessoas de diferentes culturas, com o intuito de celebrar a integração dos povos. Para Raiz, que grafita há 13 anos, a atividade vai além do ato de pintar.
“Trabalho dentro de uma perspectiva socioeducativa. Durante a atividade, conversamos sobre as pinturas, sobre os povos. E essas ideias são melhores assimiladas pelas pessoas na rua do que se estivéssemos falando a mesma coisa dentro de uma sala, por exemplo”, avalia o grafiteiro.
Socios
Os serviços do Centro de Referência terão o apoio da Defensoria Pública da União (DPU), da ONG Télécoms Sans Frontières, da Cáritas Arquiodicesana de Manaus, da Secretaria Municipal da Mulher, Assistência Social e Cidadania (SEMASC), do Departamento de Direitos Humanos (DDH), da Polícia Federal, entre outras instituições.