Universidade Federal de Santa Catarina recepciona primeiros estudantes refugiados, solicitantes da condição de refugiado ou com visto humanitário por meio de um processo seletivo específico
Por Miguel Pachioni | 9 Sep 2022
Florianópolis, 09 de setembro de 2022 – No final de agosto aconteceu um importante recomeço na vida do venezuelano Douglas Ávila, que está, novamente, em fase de mudança de endereço. Ele pretende deixar a residência temporária mantida pela prefeitura de Florianópolis (SC), onde atualmente está abrigado por sua situação de vulnerabilidade, para residir na moradia estudantil da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
Douglas, de 54 anos, foi aprovado no curso de Geografia da universidade por meio de um edital específico para pessoas refugiadas e migrantes, lançado de forma inédita pela UFSC neste ano, com o apoio da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR).
Formado em Letras na Venezuela e sem computador, Douglas se empenhou em utilizar os espaços de instituições públicas da capital catarinense para estudar, apropriando-se de tutoriais virtuais de conhecimento e livros acessados em bibliotecas. O resultado é que ele já foi recepcionado no novo ambiente acadêmico e iniciou as aulas com outros estudantes.
“Cabe a nós decidirmos o caminho que vamos construir para nossas próprias vidas. Em algumas ocasiões, chegar ao fundo do poço, quase sem esperanças, te dá forças para levantar a cabeça, traçar seus objetivos e os concretizar”, afirma o calouro.
Além de Douglas, outros sete estudantes refugiados, solicitantes da condição de refugiado e portadores(as) de visto humanitário foram aprovados pelo edital direcionado para esta população, que busca proteção internacional e acolhimento no Brasil.
As boas-vindas no ato de recepção foram dadas pela pró-reitora de Graduação e Educação Básica (Prograd), Dilceane Carraro, pela coordenadora-geral do Programa Institucional de Apoio Pedagógico aos Estudantes (Piape/CAAP/PROGRAD), Janaína Santos, pela diretora de Ações Afirmativas e Equidade (Proafe), Marilise Sayão, e pela diretora de Permanência Estudantil da Pró-Reitoria de Assistência Estudantil (Prae), Cláudia Santos.
A Universidade Federal de Santa Catarina integra ao grupo de 34 instituições de ensino superior que compõe a Cátedra Sérgio Vieira de Mello do ACNUR. Embora o processo seletivo que possibilitou o ingresso dos estudantes refugiados e solicitantes da condição de refugiado tenha sido lançado neste ano, a UFSC já tem um amplo histórico de atuação em prol dessa população.
“A UFSC, enquanto universidade pública, gratuita e de qualidade oferece uma série de benefícios aos seus estudantes visando a permanência e a qualidade dos processos formativos. Este grupo que ingressa passa a ter direito, como todos os demais, a estas políticas estudantis que são fundamentais para a democratização do acesso ao ensino superior”, afirma a professora Janaina Santos, coordenadora da CSVM da UFSC.
Além dos apoios aos alunos refugiados, a UFSC atua na inclusão comunitária, propiciando cursos de apoio pedagógico e acolhimento em língua portuguesa para estes novos estudantes, promove assistência psicológica e documentação, acesso a meios de estudo e a informações relevantes para a integração local dos novos estudantes – inclusive no campo do emprego.
Encaminhamentos para vaga de trabalho também são ofertados pela universidade, que ainda presta atendimento jurídico para sanar questões legais no Brasil.
“Por todas essas vertentes de atenção e atendimento à população refugiada, solicitante da condição de refugiado e migrante, a UFSC se consagra como referência de acolhida e integração contínuas, integrando sólidas ações nos eixos de ensino, pesquisa e extensão desenvolvidos dentro e fora do âmbito acadêmico”, afirma Maria Beatriz Nogueira, chefa do escritório do ACNUR.
Sobre a Cátedra Sérgio Vieira de Mello – A relação institucional entre o ACNUR com as Instituições de Ensino Superior (IES) no Brasil iniciou-se em 2003, por meio da Cátedra Sérgio Vieira de Mello (CSVM). Trata-se de um acordo de cooperação em que o ACNUR estabelece um Termo de Referência com as universidades, estabelecendo responsabilidades e critérios para adesão à iniciativa dentro das três linhas de ação: ensino, pesquisa e extensão.
Atualmente, 34 universidades públicas e privadas localizadas em 13 Unidades da Federação integram a CSVM. Além de difundir o ensino universitário sobre temas relacionados ao Direito Internacional dos Refugiados, a Cátedra também visa promover a formação acadêmica e a capacitação de professores e estudantes na temática. O trabalho direto com os refugiados em projetos de extensão também é definido como uma grande prioridade, assim como processo de ingresso e reingresso nas universidades por meio de editais específicos.
Seminário Nacional da Cátedra Sérgio Vieira de Mello deste ano será realizado na UFG, nos dias 28 e 29 de setembro. Mais informações estão detalhadas na página da CSMV do ACNUR: www.acnur.org.br/catedra-sergio-vieira-de-mello.
Fonte: acnur.org