Empreendedora acredita que iniciativa do governo de Uganda ajudará os negócios que ela planeja abrir.
Empreendedora acredita que iniciativa do governo de Uganda ajudará os negócios que ela planeja abrir.
No calor escaldante de uma tenda no assentamento de refugiados de Oruchinga, em Uganda, Gloria Mutamba, de sete anos de idade, ri enquanto sua mãe segura um par de óculos em seus olhos.
Em apenas um segundo o computador escanea as duas íris da garota.
A mãe de Gloria, Jenipher, tem de 32 anos e está entre as primeiras a serem examinadas como parte de um projeto nacional do governo de Uganda para coletar impressões digitais e escanear as íris de mais de um milhão de refugiados.
Para as crianças, o pelotão de verificação biométrica é uma curiosidade. Para Jenipher, é a chave para o futuro.
“O principal problema que os refugiados enfrentam é que eles não têm um lugar para chamar de casa”, diz, sentada em uma das mesas de processamento. “É por isso que apoiamos a verificação. O ACNUR deveria torná-la um sistema global para que, se um refugiado vier para Uganda, ele saiba que aqui é uma casa e que ele pode se estabelecer”.
“É por isso que apoiamos a verificação”.
O computador registra dados como as impressões digitais de Jenipher e seu status de refugiada, mas não registra sua resiliência durante os anos que passou na guerra da República Democrática do Congo (RDC) e o espírito que a leva a ajudar milhares de mulheres todos os dias.
Mantida em cativeiro e violentada repetidamente numa floresta durante duas semanas antes de escapar, Jenipher foi forçada a fugir da RDC em 2011 rumo à Uganda. Aqui, como todos os refugiados, ela recebeu um pedaço de terra. Uma pequena cabana tomou forma e Jenipher plantou cebolinha, batata e espinafre.
“Eu pedi a Deus”, lembra, “e disse ‘se você me ajudar, vou fazer da minha missão de vida ajudar os outros’”. Finalmente segura em Uganda, com um lugar para chamar de lar, ela estava determinada a cumprir sua palavra.
Com o apoio do ACNUR, a Agência da ONU para Refugiados, e de uma organização não governamental local, a Hijra, a mãe solteira demorou menos de um ano para criar um grupo de poupança comunitária que está transformando a vida das mulheres refugiadas.
“Cada mulher traz tudo o que pode e coloca no fundo comum”, diz. “Usamos o dinheiro para ajudar as mulheres em dificuldades ou caso elas precisem de um empréstimo. O que fazemos é financiar seus negócios e elas nos pagam de volta com o lucro que ganham”.
Todas as sextas-feiras, ela e um grupo conhecido como “Anjos” se encontram para angariar dinheiro e discutir oportunidades de negócios. A caixa com as economias tem três cadeados. Três mulheres, que vivem distantes uma da outra, têm uma chave.
Quando Jenipher chegou ao assentamento, muitas no grupo haviam sido estupradas enquanto procuravam por lenha na fronteira com a Tanzânia. Agora, donas de seus próprios negócios, elas têm uma fonte de renda.
“Refugiados não precisam apenas de comida, precisam ser empoderados, como minhas mulheres que agora administram seus próprios negócios”, diz Jenipher, que é dona de um negócio de compra e venda de briquetes de carvão para combustível. “Refugiados podem receber treinamento e adquirir novas habilidades, para que possam reconstruir suas vidas”.
“Usamos o dinheiro para ajudar as mulheres que precisam”.
O grupo planeja usar parte do dinheiro do fundo para abrir um salão de cabeleireiro e empregar jovens locais.
“Compramos cadeiras de plástico e um painel solar para o salão. Vamos até pagar alguém para treinar os jovens. Muitos deles terminaram a escola e eu não quero que a mesma coisa que nos aconteceu na Tanzânia aconteça com eles”.
Além do lucro de seu negócio de carvão, Jenipher também ganha 15 mil xelins ugandeses por dia (cerca U$S 4), ajudando a controlar o fluxo de pessoas no exercício de verificação. Esse dinheiro não ajuda somente ela mesma. Ao poupar uma porcentagem, ela ajuda outras mulheres e crianças na comunidade de refugiados.
“Agora, as mulheres são empreendedoras. Elas não vendem mais seus corpos. Só estavam fazendo isso porque eram pobres. Ajudamos as mulheres a conseguir empregos para que possam ficar ocupadas – sem trabalho, as pessoas perdem a dignidade”.
Com o apoio do ACNUR e do Programa Alimentar Mundial, o governo de Uganda está coletando dados biométricos de mais de um milhão de refugiados. O objetivo é garantir que todos os refugiados estejam devidamente registrados e recebam a proteção e a assistência de que precisam. O software de registro biométrico do ACNUR já foi usado para registrar cerca de 4,4 milhões em 48 países em todo o mundo.
“Agora, as mulheres são empreendedoras”.
“Uganda trata humanamente os refugiados porque são pessoas”, afirma Douglas Asiimwe, chefe da proteção de refugiados no gabinete do primeiro-ministro. “Eles são irmãos e irmãs. Eles são vizinhos. Nossa abordagem tem sido tratar os refugiados com dignidade e, para isso, você deve dar-lhes direitos”.
“Este exercício de verificação beneficiará você e suas famílias”, disse o Representante do ACNUR, Bornwell Kantande, aos refugiados. “Queremos ter serviços melhores para todos os refugiados e comunidades anfitriãs, e a base disso é a verificação”.
Depois que a verificação de Jenipher, de sua filha e dos dois filhos do seu falecido irmão é concluída, ela volta ao trabalho, vestindo um colete do ACNUR e conduzindo refugiados para dentro da tenda.
Afinal, ela tem uma promessa a cumprir.
“Eu lembro dos meus pais, lembro da minha família. Eu não posso esquecê-los, mas é preciso aceitar, é preciso seguir em frente.
Depois de tudo o que aconteceu, olhe para a minha vida agora. Olhe para a minha casa, olhe para o meu negócio, veja o quão longe eu cheguei. Mas há muitas mulheres que estão passando pelas mesmas dificuldades que enfrentei e eu realmente quero ajudá-las”.
Fonte: www.acnur.org