Os católicos têm posicionamentos mais moderados e são mais abertos à migração do que a população geral da França, demonstra pesquisa.
A reportagem é de Nathalie Birchem, publicada por La Croix International, 07-06-2018. A tradução é de Luísa Flores Somavilla.
A população francesa é bastante reservada sobre a questão da migração. Cerca de seis de cada dez entrevistados em uma pesquisa realizada pelo Instituto Francês de Opinião Pública (IFOP), por exemplo, afirmaram ser contra acolher imigrantes.
De acordo com o IFOP, 53% dos entrevistados se autodeclaravam católicos, e 26% disse ser praticante de sua religião. No que eles acreditam? Considerando sua fé, será que eles tendem a recorrer à identidade ou favorecer a hospitalidade?
São essas perguntas que quatro organizações católicas tentaram responder. As quatro instituições, Serviço para a Pastoral dos Migrantes, Catholic Relief – Caritas França, CCFD-Terre Solidaire e Serviço Jesuítas de Refugiados da França, trabalham para dar apoio aos imigrantes.
Elas se reuniram para incentivar os cristãos a se comprometerem com essa questão, com atenção aos chamados do Papa Francisco e da Conferência Episcopal.
As organizações criaram a More in Common, uma iniciativa internacional que visa imunizar nossa sociedade contra a tentação de se fechar si mesma, para trabalhar com a IFOP numa pesquisa de opinião sem precedentes que a La Croix publicou com exclusividade.
A primeira constatação é que, assim como a população em geral, os católicos acreditam que a França enfrenta chegadas maciças de imigrantes. Quarenta e nove por cento sente que, nos últimos cinco anos, o número de imigrantes aumentou muito, mas apenas 37% tinha o mesmo sentimento em relação a suas regiões.
Assim como a população francesa em geral, os católicos tiveram reações diferentes a esta situação: 41% sentia que os “imigrantes se esforçavam para se integrar”, enquanto 39% sentia que não; 45% acreditava que eles “têm prioridade em detrimento dos franceses na assistência pública”, enquanto 43% discordou.
Na pergunta sobre se os imigrantes fazem com que “o país seja aberto a novas ideias e culturas”, 40% respondeu que não e 43% que sim.
No entanto, há muitos indícios de que “os católicos têm posicionamentos mais moderados e são mais abertos à migração do que a população geral da França”, segundo François-Xavier Demoures, diretor da pesquisa e da estratégia da More in Common.
Portanto, 71% dos católicos acham que o nível de qualificação dos imigrantes deveria ser reconhecido na França e que eles devem receber ajuda para encontrar trabalho. São 27 pontos percentuais a mais que a população em geral quando uma pergunta semelhante foi feita em 2016.
“Isso é significativo”, disse Demoures. “Além disso, 61% é contra ‘fechar as fronteiras para imigrantes porque não podemos aceitá-los agora”. Na população geral, a percentagem era inferior em 32 pontos.
Porém, de acordo com uma observação da More in Common, “58% também rejeita o argumento de que a França tem os meios econômicos e financeiros para acolher os imigrantes e que, portanto, tem essa obrigação”.
Em suma, “sobre esta questão, assim como em outras, a opinião católica tem cautela com as posições mais amplas”, disse Demoures.
Portanto, apenas 28% dos católicos apoiam a imigração seletiva. Enquanto 24% sente que o Islã é incompatível com a sociedade francesa, 47% acha que tem valores semelhantes com os muçulmanos e 55% discorda da ideia de que “é um problema que a maioria dos imigrantes seja muçulmana”.
“Na verdade, os católicos são menos divididos do que ambivalentes”, afirmou Demoures. “Uma minoria tem opiniões categóricas.”
Para entender essa ambivalência, a pesquisa analisou a forma como a opinião católica se subdivide e identificou cinco grupos.
“Dois grupos, que representam 45% dos entrevistados, mostram forte abertura ao outro”, observou Demoures, “e a maioria dos católicos inclina-se para hospitalidade”.
Os grupos são os “católicos multiculturalistas” (21%), mais comprometidos, mais jovens e muito abertos, e os “católicos liberais” (24%), mais ricos e a favor de uma sociedade e uma economia abertas.
Por outro lado, representando cerca de um terço dos católicos entrevistados, dois outros grupos têm “valores mais fechados”, segundo a pesquisa.
São “católicos nacionalistas” (15%), que são contra acolher imigrantes por razões de identidade, e os “nacionalistas secularizados” (18%), que estão distantes da Igreja e são contra a imigração por motivos econômicos e sociais.
Finalmente, há os “católicos culturalmente inseguros” (22%), considerado um grupo crucial pelos pesquisadores, porque estão divididos entre medo do Islamismo e compaixão pelo sofrimento dos seres humanos, seguindo o Evangelho.
Na verdade, a fé, talvez com o exemplo dado nas paróquias, parece fazer com que muitos católicos, até mesmo os mais preocupados, voltem-se à compaixão: 61% está plenamente de acordo com a posição do Papa, que incentiva o apoio e ajuda aos imigrantes.
Sobretudo, sabe-se que os católicos têm mostrado maior empenho em ajudar os imigrantes do que a população em geral. Enquanto um em cada três franceses disse que tinha feito alguma doação ou ação em prol dos refugiados, a proporção entre os católicos – principalmente os praticantes – ficou mais próxima de um a cada dois.
Surpreende ainda mais que esse empenho tenha sido observado até mesmo entre católicos que expressaram medo e até mesmo hostilidade, como demonstram os dados. Cerca de 38% dos católicos disseram que doaram roupas ou alimentos. Esse número aumentou para 40% entre os praticantes e 49% entre os “multiculturalistas”.
Inesperadamente, só caiu para 37% entre os “católicos culturalmente inseguros”, 28% entre os “nacionalistas secularizados” e 23% dentre os “católicos nacionalistas”. Cerca de 6% dos católicos praticantes chegaram a acolher imigrantes em suas casas.
Esse compromisso, que transcende suas convicções pessoais, é muito característico da população católica.
Fonte: IHU Unisinos