Scalabrinianas em visita ao Centro de Promoção do Migrante, no bairro da Colônia – Jundiai-SP
POR ROSINHA MARTINS
DE JUNDIAÍ- SP
O fenômeno das migrações e do refúgio, nos últimos dez anos, tem mobilizado e sensibilizado a Igreja e a sociedade, seja pelos benefícios culturais, laborais e intelectuais que estes imigrantes e refugiados trazem para os países de destino, seja pelos conflitos e pelas causas que provocam estes processos migratórios.
Autoridades civis e eclesiais, movimentos e instituições, tem se esforçado para ajudar estes emigrados na adaptação no lugar de chegada e discutido políticas públicas que favoreçam a convivência fraterna e a sobrevivência através de cursos de promoção e oportunidades de emprego.
O pontificado de Papa Francisco tem acentuado e incentivado as comunidades mundiais no exercício da acolhida e do cuidado caridoso para com os migrantes e refugiados. A primeira viagem do seu pontificado foi a Lampedusa, no arquipélago das Ilhas Pelágeas, sul da Itália, no Mar Mediterrãneo, que tem se tornado cenário de travessia, de vida e de morte para milhares de imigrantes.
Durante o curso de formação permanente das Scalabrinianas, que acontece em Jundiái – São Paulo, o teólogo e diretor da Revista de Mobilidade Humana (REMHU), Roberto Marinucci, enfatizou o importante papel do Papa Francisco e a influência de seu pensamento em tempos de deslocamento humano em massa e a problemática dos muros afirmadas por países como EUA.
Os muros de Donald Trump
O mundo volta os olhares para as decisões e promessas de campanhas do neo-eleito presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que começam a se tornar realidade após sua posse. Dentre estas, está a confirmação da construção dos muros entre México x Estados Unidos.
De acordo com Roberto Marinucci, o muro tem um papel simbólico, tanto dentro quanto fora dos EUA. Dentro é uma demonstração de que ele está mantendo as promessas e que aparentemente estaria protegendo o país de uma invasão que não existe, mas que as pessoas acreditam ser real. Fora dos EUA, esse muro tem um sentido simbólico por ser uma maneira de dizer aos emigrantes que eles são deportáveis porque ao passarem por cima do muro, estariam cometendo um crime. “É uma mensagem de inferiorização do povo migrante, de negação da sua dignidade e criminalização da migração. Isso implicará em aumento de violação de direitos humanos e aumento de mortes, pois os migrantes serão obrigados a buscarem, cada vez mais, caminhos alternativos mais perigosos”, afirma.
Ainda, segundo o professor, muitos dos que vão aos EUA, são requerentes de refúgio porque fogem da violência da América Central. “É um direito que eles tem de entrar e solicitar refúgio ao país norte-americano. Esse muro, neste caso, será um impedimento, o que significa um crime contra a humanidade”.
A globalização da indiferença
Marinucci enfatizou o pensamento do Papa sobre o fenômeno das migrações na atualidade e destacou a preocupação do Pontífice com a globalização da indiferença. “Para o Papa Francisco há uma globalização da indiferença que faz com que o homem contemporâneo tenha perdido um pouco a compaixão pelo sofrimento das pessoas. Isso faz a sociedade mais indiferente e distante diante dos refugiados que fogem de guerras, de todos os migrantes econômicos que fogem da pobreza, da miséria, de situações de violações generalizadas de direitos humanos”.
O dever ético da acolhida
Segundo Roberto Marinucci a acolhida é um valor ético a ser preservado e cultivado nos tempos modernos. Para ele, o mundo está fadado ao fracasso se busca continuamente o fechamento, a indiferença diante do diferente.
O dever ético da acolhida e da hospitalidade é fundamental porque uma sociedade que não reconhece a vida como valor prioritário, é uma sociedade que não tem futuro e está destinada a auto-destruição.
Fonte: Congregação MSCS